MARIA LUÍSA MENDONÇA

MARIA LUÍSA MENDONÇA

Título: O envelhecimento feminino como exílio

Resumo: A experiência do envelhecimento feminino, tal como percebida por meio das pesquisas realizadas pela autora em diferentes meios de comunicação no Brasil (cinema, televisão, sítios de internet e revistas femininas) aponta que as diferentes formas como o processo de envelhecimento da mulher pode ser vivenciado como um exílio. Não se trata aqui de um exílio geográfico, ou migratório, tal como comumente poderia ser compreendido, mas de um exílio sociocultural em que a não existência de um lugar definido para essa parcela da população, aliada à quase total invisibilidade mediática, acaba por colocar esse grupo (tratamos aqui de mulheres entre 50 e 65 anos de idade, as razões para a escolha desse universo serão explicadas ao longo do texto) em uma espécie de limbo ou não-lugar social e cultural no qual a dificuldade de identificação é uma das características. Não identificação porque não há, nas representações sociais desse grupo, imagens de envelhecimento passíveis de identificação: quando as há, simplificadamente poderíamos abrigá-las em dois grupos: o da negação do envelhecimento por meio de cirurgias, dietas e procedimentos estéticos destinados a ocultar ou postergar o surgimento dos inevitáveis sinais da velhice e, por outro lado, aconselhamentos e roteiros destinados a ensinar como obter um envelhecimento mais saudável e desejável. A ausência de imagens que representem o envelhecimento feminino tal como se coloca de fato, como um período de invisibilidade e de não convalidação pelo Outro, aproximam as mulheres da experiência de um exílio de si mesmas, das matrizes de identificação e um ostracismo social, posto que, ao mesmo tempo em que não desejam (e nem podem) se identificar com indivíduos já instalados na velhice, tampouco podem se fazer passar por jovens senhoras que ainda podem se orgulhar de atributos físicos juvenis.
Convém, ressaltar que, no Brasil o valor aparência física e o “corpo como capital” (M.Goldenberg) são instrumentos de qualificação e de certa foram de sujeição da mulher.

Maria Luísa Mendonça é Professora aposentada da Universidade federal de Goiás, colaboradora do programa de pós-graduação em comunicação da Faculdade de Informação e comunicação da Universidade federal de Goiás, Brasil. Pós-doutora em publicidade pela Universidade Autónoma de Barcelona, pelo CNRS e Sorbonne (França). Autora de Mídia e Diversidade cultural (Brasília, casa das Musas 2010) e vários artigos sobre imagem e representação de grupos minoritários.