OTÍLIA PIRES MARTINS

OTÍLIA PIRES MARTINS

Título: A experiência exílica declinada no feminino: Maria Lamas em Paris (1962-1969)

Resumo: A diáspora portuguesa resulta de várias vagas de “disseminação” ao longo dos tempos – começou por ser “Imperial”, marcada pela Nação-Império saída das Descobertas mas é, essencialmente, da dos anos 60 e 70, resultante da opressão exercida pela censura salazarista que tratará o nosso texto. Apesar de, em português, o exílio se declinar, essencialmente, no masculino, tentaremos centrar esta reflexão no percurso exemplar de Maria Lamas (1893-1983), marcado por um combate acérrimo contra a ditadura de Salazar que a levaria à prisão e, posteriormente, ao exílio em Paris (1962-1969). Nesta nossa reflexão, evocaremos figuras incontornáveis como Maria Archer (São Paulo, 1955-1979), Maria Helena Vieira da Silva (Rio de Janeiro, 1940-1947) e Teresa Rita Lopes (Paris, 1963-1976) que experienciaram, também elas, o exílio e cujos destinos cruzaram, de alguma maneira, o de Maria Lamas. Quatro mulheres, quatro consciências, quatro olhares tão diversos sobre a experiência exílica! A nossa reflexão atentará nos seguintes pontos: aspectos teóricos das questões do exílio, razões do exílio, tipo de exílio, contribuição no país de exílio, contribuição no país de origem, depois do exílio. Os testemunhos de Teresa Rita Lopes, de Helena Pato e de outros exilados que coincidiram com Maria Lamas em Paris, permitir-nos-ão traçar uma cartografia eufórica do exílio numa cidade mítica, oscilando entre um encantamento ressentido e o sofrimento provocado por uma perda ou crise identitária; entre a dor do “desterro” e a tentação da recriação da pátria íntima, reimaginada à distância. Concebendo o exílio como experiência intervalar de desenraizamento e germinação, a escrita e intervenção social e cultural de Maria Lamas contribuirá, inegavelmente, para a elevação da condição feminina e assim “resgatar o silêncio” a que as mulheres estavam condenadas, no Portugal cinzento e retrógrado do Estado Novo.

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Otília Pires Martins é Professora Associada com Agregação no Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro. A sua escolaridade foi, desde muito cedo, partilhada entre Portugal e França. Fez toda a formação superior na Universidade de Clermont-Ferrand (Français, Lettres Modernes) até ao Doctorat de 3e cycle em Literatura Francesa do Séc. XX (1983). Iniciou então a carreira docente na Universidade de Aveiro, na área de Estudos Franceses. Aí se doutorou em Literatura Francesa, em 1993, com a tese Le Mal dans l’univers de Julien Green. Ambivalence et antithèse dans l’imaginaire greenien. Em 2008, prestou Provas de Agregação em Cultura Francesa. Docente convidada da Universidade Católica (Viseu, entre 1984 e 1997). Leccionou em várias universidades estrangeiras (Pau, Lyon, São Paulo). Tem apresentado comunicações em congressos e tem publicado artigos e capítulos de livros, em Portugal e no estrangeiro. Como responsável da Linha de Investigação “Representações de Portugal nas Literaturas estrangeiras e representações do estrangeiro na Literatura Portuguesa” (2000-2009), coordenou 5 volumes referentes a este tema: Portugal e o “Outro”: uma relação assimétrica?; Imagens e Viagens; Textos de Hermenêutica Intercultural; Imagens, Mitos e Estereótipos; Olhares, Influências e Mediação. Foi coordenadora do Centro de Línguas, Literaturas e Culturas (2011-2015) e membro da Comissão Executiva da Escola Doutoral da Universidade de Aveiro (2012-2104).