As múltiplas convulsões e revoluções geopolíticas que marcaram o último século levaram (e continuam a levar), milhões de indivíduos a abandonar as suas terras ou países de origem, em demanda de paz e/ou de liberdade, em busca de sobrevivência ou de melhores condições de vida. Os territórios e países que têm a língua portuguesa em comum, aqui designados como “mundo lusófono”, estiveram todos diretamente ligados a algumas dessas vagas migratórias e exílicas forçadas por regimes ditatoriais, desencadeadas por guerras de independência e/ou por guerras civis e ainda pelos vários problemas estruturais causados pela pobreza ou pela instabilidade.
Se bem que, por tradição, também no mundo lusófono tenham sido sempre os homens os primeiros a partir, a emigração e o exílio acabavam por marcar igualmente o universo feminino. Entretanto, ao longo das últimas décadas, tem aumentado não apenas o número de mulheres migrantes, como a sua visibilidade social e cultural enquanto sujeitos de experiência e/ou de representação.
Neste encontro alargado de investigadores e criadores propomo-nos exatamente desenvolver /aprofundar a função e a perspetiva das mulheres tanto nos diferentes processos migratórios como na sua subjetivação no domínio das Letras e das Artes. No entanto, ao invés de nos concentrarmos apenas num estudo de base nacional e de separarmos, como muitas vezes aconteceu, e/imigração de exílio, optamos por abrir esta problemática a uma análise de diferentes contextos do mundo lusófono, assim como por utilizar o termo exiliência, numa tradução do neologismo proposto por Alexis Nouss (2015) para designar “o núcleo existencial comum a todas as experiências de sujeitos migrantes” e que, como expõe o autor de La condition de l’exilé, é passível de se declinar em condição e consciência, podendo estas coincidir ou não e em graus distintos. Sem querer anular as diferenças de experiências ou destinos individuais que, justamente, as representações literárias ou artísticas tendem a explorar, a noção de exiliência pretende antes de mais contemplar questões que extravasam das grelhas de análise socio-económica normalmente utilizadas para falar de migrações, designadamente tudo aquilo que tem a ver com os processos de subjetividade e do trabalho da memória que, além de interferirem nas construções identitárias, atravessam também as diferentes gerações.
Aligre FM
Lusitania # 29 octobre 2016
Maria Araujo da Silva apresenta o colóquio. OUVIR