FERNANDO CUROPOS

FERNANDO CUROPOS

Título: Virgínia de Castro e Almeida ou o exílio lésbico

Resumo: Quando se fala na diáspora e no exílio português, a questão sexual jamais é evocada, confirmando assim a opinião de Alexandre Melo para quem «o corpo não tem lugar nos discursos correntes e dominantes na sociedade portuguesa e por isso tudo se passa como se os portugueses não tivessem corpo.» Com efeito, nesse domínio, o pudor é a norma. Sendo assim, «a história das sexualidades femininas, sob todas as suas formas […] continua a ser um imenso jardim secreto.» (Michelle Perrot). Ora, e desde que os portugueses começaram a partir para outros horizontes geográficos, houve também um exílio voluntário ou forçado de mulheres consideradas como associais, pecadoras ou anormais. Para aquelas que poderão escolher o caminho do exílio, a sua viagem torna-se uma «viagem ação» «com a qual essas mulheres tentam uma verdadeira saída fora dos seus espaços e papéis. Para essa transgressão, é preciso que haja um desejo de fuga, um sofrimento, a recusa de um futuro insuportável» (Perrot). O que leva algumas dessas mulheres para o caminho do exílio seria então uma fuga perante a ordem patriarcal e heteronormativa; o que elas recusam: a heterossexualidade obrigatória. É através do percurso de vida da escritora e produtora de cinema Virgínia de Castro e Almeida (1874-1945), figura da cultura portuguesa hoje em dia esquecida, que daremos a ver ‘‘outra’’ exiliência no feminino.

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Fernando Curopos é professor auxiliar com agregação na Universidade Paris Sorbonne. Trabalha sobre as questões de género, de sexualidade e sobre temáticas queer na literatura portuguesa e no cinema contemporâneo. Autor de António Nobre ou la crise du genre, Paris , L’Harmattan, 2009 e L’émergence de l’homosexualité dans la littérature portugaise (1875-1915), Paris, L’Harmattan, 2016.